“O cristianismo não é uma doutrina filosófica, não é um
programa de vida para sobreviver, não serve para nos educar, ou para
fazer as pazes. Estas são consequências. O cristianismo é uma pessoa,
uma pessoa levantada na Cruz, alguém que renunciou a si mesmo para nos
salvar”. Assim falou, na manhã desta terça-feira, o
Papa Francisco durante a homilia da missa na
Capela da Casa Santa Marta, segundo indicou a
Rádio Vaticano.
A reportagem é de
Domenico Agasso Jr e publicada no sítio
Vatican Insider, 08-04-2014. A tradução é de
André Langer.
Na homilia, o
Pontífice voltou a refletir sobre os conceitos da essência cristã, sobre o
pecado e sobre a presunção de sair dele com as próprias forças. Partiu da primeira leitura do dia, do
Livro dos Números,
para refletir sobre a morte e o pecado. Destacou, acima de tudo, que
Jesus, no Evangelho do dia, chama a atenção dos fariseus, dizendo-lhes:
“Morrerão em seu pecado”.
“Não há possibilidade de sairmos sozinhos do nosso pecado – explicou
Bergoglio.
Estes doutores da lei, as pessoas que ensinavam a lei, não tinham uma
ideia clara sobre isto. Acreditavam, sim, no perdão de Deus, mas se
sentiam fortes, sabiam de tudo. E ao final, fizeram da religião e da
adoração a Deus uma cultura com valores, reflexões, certos mandamentos
de conduta para serem educados e pensavam que o Senhor pudesse perdoar.
Sabiam disso, mas estavam muito longe de tudo isto”.
O Senhor, no deserto, recordou o
Papa, manda
Moisés
fazer uma serpente e colocá-la sobre uma haste e diz que todo aquele
que for mordido por uma serpente e olhar para ela não morrerá. “Mas, o
que é a serpente?”, perguntou-se
Francisco. “A serpente – explicou – é o sinal do pecado”, como já vemos no
Livro do Gênesis quando “a serpente seduziu a
Eva, propondo-lhe o pecado”. E Deus, prosseguiu o
Pontífice,
manda que se eleve o “pecado como bandeira de vitória”. E isto não
compreendemos bem “se não entendemos o que Jesus nos diz no Evangelho”.
Cristo diz aos judeus: “Quando tiverem levantado o Filho do Homem,
saberão quem eu sou”.
No deserto, recordou o
Papa, foi elevado o pecado,
“aqui foi elevado Deus, feito homem e feito pecador por nós. E todos os
nossos pecados estavam ali. Não se compreende o cristianismo sem
entender esta humilhação profunda do Filho de Deus que se humilhou a si
mesmo fazendo-se servo até a morte e morte de Cruz, para servir”.
E por este motivo o
Apóstolo Paulo, prosseguiu,
“quando fala sobre o que lhe envaidece (e também podemos dizer o que nos
envaidece), diz: ‘dos pecados’. “Nós – observou o
Santo Padre
– não temos outra coisa de que nos orgulhar: esta é a nossa miséria”.
Mas, acrescentou, “da parte da misericórdia de Deus, nós nos gloriamos
em Cristo crucificado”; e justamente por isso “não existe um
cristianismo sem a Cruz e não existe uma Cruz sem Jesus Cristo”.
O coração da salvação de Deus, disse o
Papa, “é seu
Filho, que tomou sobre si todos os nossos pecados, as nossas soberbas,
as nossas seguranças, as nossas vaidades, os nossos desejos de sermos
como Deus”. “Um cristão – afirmou com ênfase
Francisco – que não sabe gloriar-se em Cristo crucificado não entendeu o que significa ser cristão”.
Nossas chagas, prosseguiu
Francisco, “que deixam o
pecado em nós, se curam somente com as chagas do Senhor, com as chagas
do Deus feito homem, humilhado e aniquilado”. “Este é o mistério da
Cruz”, afirmou
Francisco. “Não é uma decoração que
devemos colocar nas igrejas e nos altares. Não é um símbolo que nos
distingue dos outros. A Cruz é o mistério, o mistério do amor de Deus,
que humilha a si mesmo, que se anula, se faz pecado. Onde está o teu
pecado? ‘Não sei, tenho tantos. Não, teu pecado está ali, na Cruz. Vai
buscá-lo ali, nas chagas do Senhor e teu pecado será curado, tuas chagas
serão curadas, teu pecado será perdoado. O perdão que Deus nos dá não é
perdoar uma dívida que temos com Ele: são as feridas de seu Filho na
Cruz, elevado na Cruz. Que Ele nos atraia e nós nos deixemos curar”.