LUIZ TURRA
Mais ou menos intensa, a fome é sempre um alerta e uma ameaça à vida. Há tantos que sabem e buscam esclarecer, sempre mais, as causas e as consequências da fome. Busca-se mapear e computar dados estatísticos, que confirmam o aumento sempre maior dos índices deste drama da humanidade.
A fome é um escândalo que dura demasiado tempo, como realidade que destrói a vida. Com razão afirmava São João XXIII: “Não haverá no mundo justiça, nem paz, enquanto os homens não tomarem a sério a dignidade de criaturas e filhos de Deus, primeira e última razão de ser de toda a criação” (Mater et Magistra, nº 214)
Um médico, competente e muito humano, registrou e publicou num jornal este depoimento: “Na semana passada, convivi com um paciente que é símbolo de nossa pobreza social: uma vítima da silicose, essa doença que destrói os pulmões pela inalação repetida de pó de pedra que mutila milhares de infelizes trabalhadores braçais... Perguntei-lhe se não pensava em fazer outra coisa e o paciente respondeu: ‘O problema, doutor, é que no sertão nós somos muitas vezes obrigados a escolher entre a fome e a falta de ar. Acabamos escolhendo a falta de ar, porque a fome mata mais rápido!”
A fome mata com rapidez a energia para reagir, as esperanças, os sonhos e a própria vida. O desequilíbrio social e econômico, provocado pela corrupção, a ganância, a injustiça e a sedução do acúmulo, provocam a fome de multidões e mortes, que podem ser consideradas verdadeiros homicídios (Cf. CIC 2269). O profeta Amós (8,4-10) denunciava com veemência o empobrecimento do povo, causado pelos comerciantes que se diziam observantes do sábado e da lua nova, mas ávidos do lucro.
Um cristão anônimo, consciente de sua responsabilidade, dizia: “Quando tomo conhecimento de que os famintos e necessitados poderiam caminhar ao redor do mundo em um cortejo que daria vinte vezes a volta ao planeta e, assim mesmo eu não me espanto e nada faço, então eu sou Caim”.
É muito difícil e até quase impossível precisar o número de vítimas por causa da fome. Porém, afirma-se que, no mundo, diariamente morrem 120 mil pessoas de fome. Diziam os antigos Padres da Igreja: “Alimenta ao que morre de fome, porque se não o alimentaste, mataste-o”.
O Conselho Pontifício “Cor Unum”, no dia 4 de outubro, festa de São Francisco, de 1996, lançou um documento que continua sendo atual. Tem como título: “A fome no mundo um desafio para todos: o desenvolvimento solidário”. Além de situar causas da fome, aponta luzes para sua superação:
. A busca da maior eficácia na gestão dos bens terrestres;
. Maior respeito pela justiça social consentida na destinação universal dos bens;
. Uma prática competente e permanente da subsidiariedade;
. O exercício da solidariedade que impede a apropriação dos meios financeiros por parte dos ricos e que permitirá a cada pessoa não ser excluída do corpo social e econômico, nem privado de sua dignidade fundamental.
. A superação da cultura da indiferença pela cultura da solidariedade.