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quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Papa na Santa Marta: a cultura da indiferença é o oposto do amor de Deus


“Este é o mistério do amor”, esclareceu Francisco, “Deus nos amou por primeiro. Ele deu o primeiro passo”. Um passo “em direção à humanidade que não sabe amar”, que “precisa do carinho de Deus para amar”, do testemunho de Deus.
Alessandro Di Bussolo - Cidade do Vaticano
Deus “dá o primeiro passo” e ama “a humanidade que não sabe amar”, porque ele tem compaixão e misericórdia, enquanto nós mesmo sendo bons, muitas vezes não entendemos as necessidades dos outros e permanecemos indiferentes, “talvez porque o amor de Deus” não entrou em nossos corações.
Foi o que disse o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã desta terça-feira (08/01), capela da Casa Santa Marta, oferecida ao eterno descanso do arcebispo Giorgio Zur, núncio apostólico emérito na Áustria, que viveu ali naquela casa e faleceu “ontem à meia-noite”, disse o Papa. O pontífice se inspirou na liturgia de hoje, desde a exortação ao amor, da Primeira Carta de São João Apóstolo, ao Evangelho de Marcos, sobre a multiplicação dos pães.
Ouça a reportagem

Deus deu o primeiro passo e nos amou primeiro

 

“Amemo-nos uns aos outros, porque o amor” vem de Deus, recordou o Papa, citando as palavras de São João na Primeira Leitura. O apóstolo explica “como o amor de Deus se manifestou em nós”: “Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que tenhamos a vida através dele”.
“Este é o mistério do amor”, esclareceu Francisco, “Deus nos amou por primeiro. Ele deu o primeiro passo”. Um passo “em direção à humanidade que não sabe amar”, que “precisa do carinho de Deus para amar”, do testemunho de Deus. “Este primeiro passo que Deus fez é o seu Filho: ele o enviou para nos salvar e dar sentido à vida, para nos renovar, para nos recriar”.

Jesus teve compaixão da multidão

 

A seguir, Pontífice falou da passagem do Evangelho de Marcos sobre a multiplicação dos pães e dos peixes. “Por que Deus fez isso?”, perguntou. Por “compaixão”. A compaixão da grande multidão de pessoas que vê descendo do barco, às margens do Lago de Tiberíades, porque estavam sozinhas, sublinhou o Papa Francisco: “Eram como ovelhas que não têm pastor”.
O coração de Deus, o coração de Jesus se comove, e vê, vê aquelas pessoas, e não pode ficar indiferente. O amor é inquieto. O amor não tolera a indiferença. O amor tem compaixão. Mas compaixão significa colocar o coração em risco; significa misericórdia. Jogar o próprio coração para os outros: isso é amor. O amor é colocar o coração em risco para os outros.

Os discípulos: que se arranjem para encontrar comida

 

Depois, o Papa descreveu a cena de Jesus que ensina “muitas coisas” ao povo e os discípulos acabam ficando entediados, “porque Jesus sempre dizia as mesmas coisas”. E enquanto Jesus ensina “com amor e compaixão”, talvez comecem a “falar entre eles”. No final, eles olham para o relógio: “Mas é tarde ...”.
Francisco ainda citou o evangelista Marcos: “Mas Mestre, o lugar é deserto e agora é tarde. Mandem eles embora, de modo que, indo para os povoados vizinhos, possam comprar comida”. Praticamente dizem “para eles se virar” e que comprem o pão deles. “Mas temos certeza”, comentou o Pontífice, “de que sabiam que tinham pão para eles, e queriam proteger isso. É a indiferença”:
Aos discípulos não interessava as pessoas: interessava Jesus, porque o queriam bem. Não eram maus: eram indiferentes. Eles não sabiam o que era amar. Eles não sabiam o que era compaixão. Eles não sabiam o que era indiferença. Eles tiveram que pecar, trair o Mestre, abandonar o Mestre, para entender o cerne da compaixão e da misericórdia. E Jesus, a resposta é pungente: "Dai-lhes vós mesmos de comer". Tomem conta deles. Esta é a luta entre a compaixão de Jesus e a indiferença, a indiferença que se repete na história sempre, sempre ... Tantas pessoas que são boas, mas não compreendem as necessidades dos outros, não são capazes de compaixão. São boas pessoas, talvez porque não entrou o amor de Deus em seus corações ou não o deixaram entrar.

A fotografia das pessoas que desviam o olhar do sem-teto

 

E aqui o Papa Francisco descreve uma fotografia que está nas paredes da Esmolaria Apostólica: "um clique espontâneo que fez um bravo jovem romano que a ofereceu à Esmolaria". O fez Daniele Garofani, hoje fotógrafo do "L'Osservatore Romano", retornando de um serviço de distribuição de refeições para os sem-teto junto com o cardeal Krajewski.
É uma noite de inverno, “se percebia pela maneira de vestir das pessoas" - explica o Papa - que saíam "de um restaurante". "Pessoas bem cobertas" e satisfeitas: "haviam comido, estavam entre amigos".
E lá – prossegue Francisco na descrição da foto - "havia um homem sem-teto no chão, que faz assim ..." (e imita o gesto da mão estendida para pedir esmola). O fotógrafo, acrescenta ainda o Papa, "foi capaz de tirar a fotografia no momento em que as pessoas desviam o olhar, para que os olhos não se cruzem". Isto, comentou Francisco, "é a cultura da indiferença. Isto é o que os apóstolos fizeram". "Deixe-os, que vão para o campo, no escuro, com fome. Que eles se arranjem: é problema deles". "Temos o que comer: cinco pães e dois peixes para nós".

O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença

 

"O amor de Deus sempre vai primeiro - explica o Papa - é amor de compaixão, de misericórdia". É verdade que o oposto do amor é o ódio, mas em tantas pessoas não existe um "ódio consciente":
O oposto mais cotidiano ao amor de Deus, à compaixão de Deus, é a indiferença: a indiferença. "Eu estou satisfeito, não me falta nada. Tenho tudo, assegurei esta vida, e também a eterna, porque vou à Missa todos os domingos, sou um bom cristão". "Mas, saindo do restaurante, eu olho para outra parte". Pensemos: este Deus que dá o primeiro passo, que tem compaixão, que tem misericórdia, e tantas vezes nós, o nosso comportamento é a indiferença. Rezemos ao Senhor para que cure a humanidade, começando por nós: que o meu coração seja curado dessa doença que é a cultura da indiferença.

Felicitação a Kiko Argüello pelo zelo apostólico

 

No final da celebração, Francisco envia uma cordial saudação a Kiko Argüello, iniciador do Caminho Neocatecumenal, pelo seu octogésimo aniversário, e agradece a ele" pelo zelo apostólico com que trabalha na Igreja".
Veja o Papa na Casa Santa Marta

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Papa: ouvido, coração e mãos: o itinerário da Palavra de Deus

Papa na Audiência GeralPapa na Audiência Geral  (Vatican Media)

fonte: radio vaticano

"A Palavra de Deus faz um caminho dentro de nós. A escutamos com os ouvidos, passa pelo coração, não permanece nos ouvidos, deve ir ao coração e do coração passa às mãos, às boas obras. Este é o percurso que faz a Palavra de Deus: dos ouvidos ao coração e às mãos", disse o Santo Padre.
Cidade do Vaticano
"Como poderíamos enfrentar a nossa peregrinação terrena, com as suas dificuldades e as suas provas, sem ser regularmente nutridos e iluminados pela Palavra de Deus que ressoa na liturgia?"
Ao dar continuidade a sua série de catequeses sobre a Santa Missa, o Papa Francisco falou na Audiência Geral desta quarta-feira, a 4ª de 2018 e a 213ª de seu Pontificado, sobre a Liturgia da Palavra, "que é uma parte constitutiva porque nos reunimos justamente para escutar o que Deus fez e pretende ainda fazer em nós".
"É uma experiência que acontece "ao vivo" e não por ouvir dizer - explicou o Santo Padre aos fiéis presentes na Praça São Pedro - porque quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura, é Deus mesmo que fala ao seu povo e Cristo, presente na sua palavra, anuncia o Evangelho".
O Papa alertou então, que muitas vezes enquanto se lê a Palavra de Deus, se fazem comentários sobre como o outro se veste ou se comporta. Ao invés disto, "devemos escutar, abrir o coração porque é o próprio Deus que nos fala e não pensar em outras coisas ou em falar de outras coisas. Entenderam? Não acredito que aconteça muito, mas explicarei o que acontece nesta Liturgia da Palavra":
"As páginas da Bíblia deixam de ser um escrito para tornarem-se palavra viva, pronunciada por Deus. É Deus que por meio do que se lê nos fala e interpela a nós que escutamos com fé (...). Mas para escutar a Palavra de Deus, é preciso ter também o coração abertopara receber a palavra no coração. Deus fala e nós nos colocamos em escuta, para depois colocar em prática o que ouvimos. É muito importante ouvir. Algumas vezes não entendemos bem porque existem algumas leituras um pouco difíceis. Mas Deus nos fala o mesmo em outro modo: em silêncio e ouvir a Palavra de Deus. Não esqueçam isto. Na Missa, quando começam as leituras, ouçamos a Palavra de Deus".
"Temos necessidade de escutá-lo!", enfatizou o Papa. "É de fato uma questão de vida, como bem recorda a incisiva expressão «nem só de pão o homem viverá, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus»".
Neste sentido, "falamos da  Liturgia da Palavra como da "mesa" que o Senhor prepara para alimentar a nossa vida espiritual".
A mesa litúrgica é abundante, "abre mais largamente os tesouros da Bíblia", do Antigo e no Novo Testamento, porque neles é anunciado pela Igreja o único e idêntico mistério de Cristo:
"Pensemos na riqueza das leituras bíblicas oferecidas pelos três ciclos dominicais que, à luz do Evangelhos Sinóticos, nos acompanham no decorrer do ano litúrgico, uma grande riqueza".
O Papa chamou a atenção para a importância do Salmo responsorial, "cuja função é favorecer a meditação do que foi escutado na leitura que o precede".
"É bom que o Salmo seja valorizado com o canto, ao menos  do refrão", observou Francisco, acrescentando que também as leituras dos dias feriais constituem "um grande nutrimento para a vida cristã".
O Santo Padre explicou então que "as leituras da Missa, variadamente ordenadas segundo as diferentes tradições do Oriente e Ocidente, estão contidas nos Lecionários":
"A proclamação litúrgica das mesmas leituras, com os cantos deduzidos da Sagrada Escritura, exprime e favorece a comunhão eclesial, acompanhando o caminho de todos e de cada um".
Neste sentido - explica - "se entende porque escolhas subjetivas, como a omissão de leituras e a sua substituição com textos não bíblicos são proibidas":
"Isto de fato empobrece e compromete o diálogo entre Deus e o seu povo em oração. Pelo contrário, a dignidade do ambão e o uso do lecionário, a disponibilidade de bons leitores e salmistas. Mas busquem bons leitores, eh!, aqueles que sabam ler, não aqueles que leem e não se entende nada, eh! é assim, eh! Bons leitores, eh! Devem se preparar e ensaiar antes da Missa para ler bem. E isto cria um clima de silêncio receptivo".
A Palavra do Senhor é uma ajuda indispensável para não nos perdermos, nos nutre e nos ilumina, nos ajudando assim a enfrentarmos as dificuldades e as provas de nossa peregrinação terrena.
Mas "não basta ouvir com os ouvidos, sem acolher no coração a semente da divina Palavra, permitindo a ela de dar fruto":
"A ação do Espírito, que torna eficaz a resposta, tem necessidade de corações que se deixem trabalhar e cultivar, de modo que aquilo que é ouvido na Missa passe para a vida cotidiana, segundo a advertência do apóstolo Tiago: «Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes; isto equivaleria a vos enganardes a vós mesmos»."
"A Palavra de Deus faz um caminho dentro de nós. A escutamos com os ouvidos, passa pelo coração, não permanece nos ouvidos, deve ir ao coração e do coração passa às mãos, às boas obras. Este é o percurso que faz a Palavra de Deus: dos ouvidos ao coração e às mãos. Aprendamos estas coisas. Obrigado.”