Lembre-se de que lidamos com pessoas e não com
gado
Como
você corrige seu filho, seu esposo, sua esposa, seu empregado, seu colega, seu
subordinado de modo geral? É um dever e uma necessidade corrigir aqueles a quem
amamos, mas isso precisa ser feito de maneira correta. Toda autoridade vem de
Deus e em Seu nome deve ser exercida; por isso, com muito jeito e cautela.
Não é
fácil corrigir uma pessoa que erra; apontar o dedo para alguém e dizer-lhe:
“Você errou!”, dói no ego da pessoa; e se a correção não for feita de modo
correto pode gerar efeito contrário. Se esta for feita inadequadamente pode
piorar o estado da pessoa e gerar nela humilhação e revolta. Nunca se pode, por exemplo,
corrigir alguém na frente de outras pessoas, isso a deixa humilhada, ofendida e,
muitas vezes, com ódio de quem a corrigiu. E, lamentavelmente, isso é muito comum,
especialmente por parte de pessoas que têm um temperamento intempestivo (“pavio
curto”) e que agem de maneira impulsiva. Essas pessoas precisam tomar muito
cuidado, porque, às vezes, querendo queimar etapas, acabam queimando pessoas.
Ofendem a muitos.
Quem
erra precisa ser corrigido, para seu bem, mas com elegância e amor. Há pais que
subestimam os filhos, os tratam com desdém, desprezo. Alguns, ao corrigi-los, o
fazem com grosseria, palavras ofensivas e marcantes. O pior de tudo é quando
chamam a atenção dos filhos na presença de outras pessoas, irmãos ou amigos, até
do (a) namorado (a). Isso o (a) humilha e o (a) faz odiar o pai e a mãe. Como é
que esse (a) filho (a), depois, vai ouvir os conselhos desses pais? O mesmo se
dá com quem corrige um empregado ou subordinado na frente dos outros. É um
desastre humano!
Gostaria de apontar aqui três exigências
para corrigir bem uma pessoa:
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festa Santa Edwiges 2011 |
1 – Nunca corrigir na frente dos
outros.
Ao corrigir alguém, deve-se
chamá-lo a sós, fechar a porta da sala ou do quarto, e conversar com firmeza,
mas com polidez, sem gritos, ofensas e ameaças, pois este não é o caminho do
amor. Não se pode humilhar a pessoa. Mesmo a criança pequena deve ser corrigida
a sós para que não se sinta humilhada na frente dos irmãos ou amigos. Se for
adulto, isso é mais importante ainda. Como é lamentável os pais ou patrões que
gritam corrigindo seus filhos ou empregados na frente dos outros! Escolha um
lugar adequado para corrigir a pessoa.
Gostaria de lembrar que a Igreja, como boa
Mãe, garante a nós o sigilo da Confissão, de maneira extrema. Se o sacerdote
revelar nosso pecado a alguém, ele pode ser punido com a pena máxima que a
instituição criada por Cristo pode aplicar: a excomunhão. Isso para proteger a
nossa intimidade e não permitir que a revelação de nossos erros nos humilhe. E
nós? Como fazemos com os outros? Só o fato de você dar a privacidade à pessoa a
ser corrigida, ao chamá-la a sós, ela já estará mais bem preparada para a
correção a receber, sem odiá-lo.
2 – Escolha o momento
certo.
Não se pode chamar a atenção
de alguém no momento em que a pessoa errada está cansada, nervosa ou indisposta.
Espere o melhor momento, quando ela estiver calma. Os impulsivos e coléricos
precisam se policiar muito nestes momentos porque provocam tragédias no
relacionamento. Com o sangue quente derramam a bílis – às vezes mesmo com
palavras suaves – sobre aquele que errou e provocam no interior deste uma ferida
difícil de cicatrizar. Pessoas assim acabam ficando malvistas no seu meio. Pais
e patrões não podem corrigir os filhos e subordinados dessa forma, gritando e
ofendendo por causa do sangue quente. Espere, se eduque, conte até 10 dez, vá
para fora, saia por um tempo da presença do que errou; não se lance afoito sobre
o celular para o repreender “agora”. Repito: a correção não pode deixar de ser
feita; a punição pode ser dada, mas tudo com jeito, com galhardia. Estamos
tratando com gente e não com gado.
3 – Use palavras
corretas.
Às vezes, um “sim” dito de
maneira errada é pior do que um “não” dito com jeito. Antes de corrigir alguém,
saiba ouvi-lo no que errou; dê-lhe o direito de expor com detalhes e com tempo o
que fez de errado, e por que fez aquilo errado. É comum que o pai, o patrão, o
amigo, o colega, precipitados, cometam um grave erro e injustiça com o outro. O
problema não é a correção a aplicar, mas o jeito de falar, sem ofender, sem
magoar, sem humilhar, sem ferir a alma.
Eu
era professor em uma Faculdade, e um dos alunos veio me dizer que perdeu uma das
provas e que não podia trazer atestado médico para justificar sua falta. Ter que
fazer uma prova de segunda chamada, apenas para um aluno, me irritava. Então, eu
lhe disse que não lhe daria outra prova. Quando ele insistiu, fui grosseiro com
ele, até que ele pôde se explicar: “Professor, é que eu uso um olho de vidro, e
no dia da sua prova o meu olho de vidro caiu na pia e se quebrou; por isso eu
não pude fazer a prova”. Fiquei com “cara de tacho” e lhe pedi mil desculpas.
Nunca
me esqueci de uma correção que o meu pai nos deu quando eu e meus oito irmãos
éramos ainda pequenos. De vez em quando nós nos escondíamos para fumar
escondidos dele. Nossa casa tinha um quintal grande e um pequeno quarto no fundo
do quintal; lá a gente se reunia para fumar.
Um
dia nosso pai nos pegou fumando; foi um desespero… Eu achei que ele fosse dar
uma surra em cada um; mas não, me lembro exatamente até hoje, depois de quase
cinquenta anos, a bela lição que ele nos deu. Lembro-me bem: nos reuniu no meio
do quintal, em círculo, depois pediu que lhe déssemos um cigarro; ele o pegou,
acendeu-o, deu uma tragada e soprou a fumaça na unha do dedo polegar, fazendo
pressão, com a boca quase fechada. Em seguida, mostrou a cada um de nós a sua
unha amarelada pela nicotina do cigarro. E começou perguntando: “Vocês sabem o
que é isso, amarelo? É veneno; é nicotina; isso vai para o pulmão de vocês e faz
muito mal para a saúde. É isso que vocês querem?”
Em
seguida ele não disse mais nada; apenas disse que ele fumava quando era jovem,
mas que deixou de fazê-lo para que nós não aprendêssemos algo errado com ele.
Assim terminou a lição; não bateu em ninguém e não xingou ninguém; fomos embora.
Hoje nenhum de meus irmãos fuma; e eu nunca me esqueci dessa lição. São
Francisco de Sales, doutor da Igreja, dizia que “o que não se pode fazer por
amor, não deve ser feito de outro jeito, porque não dá resultado”.
E se
você magoou alguém, corrigindo-o grosseiramente, peça perdão logo; é um dever de
consciência.
Felipe Aquino